É um dos maiores
objetivos da sociedade (dita moderna, ocidental, evoluída, chamem-lhe o que
quiserem) igualar as condições de trabalho de ambos os géneros, diminuindo a
diferença e a discriminação, e permitindo a todos os trabalhadores
(independentemente do sexo, função, ou local de trabalho) a mesma oportunidade
e respeito.
Cá pelo nosso país, a
coisa também tem sofrido a sua evolução. Quando eu comecei no mercado de
trabalho, quem p.ex tivesse mais de 35 anos estava já completamente afastado da
oportunidade de se candidatar a um emprego. Mas hoje em dia, além de ser ilegal
colocar num anúncio algo como “só são considerados candidatos até 35 anos de
idade”, as empresas já reconhecem (pelo menos em teoria) que ter 35 anos, ou 28 ou 47 pode ser
insignificante, quando o que se procura é conhecimento, experiência, talento,
maturidade e motivação.
Mas pelo nosso país também, toda a
teoria à volta desta evolução é muito defendida - e de uma forma muito bonita - mas nem sempre devidamente praticada. Somos um povo de poetas, de fados, de descobertas e
aventuras. E em pleno século XXI continuamos a inventar, descobrir e utilizar
palavras bonitas para atos que nunca iremos fazer. Sendo que no mercado de
trabalho a coisa não será diferente.
Para quem é do sexo
feminino, então as parvoíces e estupidezes que se ouvem no local de trabalho
(ou na entrevista para entrar no mesmo) são ainda mais gritantes:
A nível familiar
- tem 25 anos? E já
tem namorado? (o que é que isso interessa??)
- tem 25 anos? Ah, e
vive com o namorado…. Mas não está a pensar ter filhos, pois não? Pelo menos
para já… (não, à partida ainda demora 9 meses até a criança nascer!)
- Então e está a
pensar ter filhos nos próximos anos? (se calhar quer-se candidatar a
padrinho..)
- vai casar em Fevereiro
do próximo ano?? Eh pah… não calha nada bem.. (desculpe; se voltar a planear
um casamento peço-lhe primeiro opinião)
A nível de vencimento
- quer um aumento? Sabe
quantos desempregados aceitariam vir agora para aqui, por
menos 100 ou 200 euros? (e sabe quantos desses desempregados aceitariam estar no
seu lugar de chefinho, por menos 100 ou 200 euros, e ser muito mais líder do
que chefe?)
- quer um aumento? Não
acha essa questão quase insultuosa, nos dias que correm? (de fato, estive quase
para “elogiar a sua mãezinha”, mas depois pensei que esta minha pergunta
fizesse maior efeito)
- o máximo que lhe
posso oferecer é 550€ brutos. O que, convenhamos, dá para pagar a sua renda de
casa. É casada, não é? Então o seu marido que pague o resto das contas (ena, obrigada!,
estava mesmo a precisar de um consultor financeiro!)
A nível de férias e
ausências
- o seu filho tem de
ir ao médico? Outra vez? Mau…. (pois, o que é mau é o puto estar doente, isso que é)
- chegou mais tarde
porque teve de ir outra vez ao médico? Então mas agora vai quantas vezes ao
médico? (não faço ideia do recorde, mas posso informar-me)
- precisa de tirar um
dia de férias para tratar de uns assuntos pessoais? Então e não pode pedir a
alguém para tratar disso por si? (pois, mas se são assuntos pessoais…)
- não pode fazer mais horas extraordinárias??! Então mas afinal faz parte da equipa ou não? ... Andamos aqui todos a fazer sacrifícios pela empresa, e da sua parte só ouvimos nãos!! Já vi que você não veste a camisola! (ó meu caro amigo, se queres dar opinião sobre a minha roupa pagas-me subsídio para vestes, ok??)
- não pode fazer mais horas extraordinárias??! Então mas afinal faz parte da equipa ou não? ... Andamos aqui todos a fazer sacrifícios pela empresa, e da sua parte só ouvimos nãos!! Já vi que você não veste a camisola! (ó meu caro amigo, se queres dar opinião sobre a minha roupa pagas-me subsídio para vestes, ok??)
Estes são apenas
alguns dos muito poucos exemplos que ocorrem diariamente. Já para não falar do
assédio sexual, moral ou bullying pela formação que se tem (ou religião ou
outro motivo qualquer para causar desconforto).
Mas ter de provar que se amamenta, espremendo a mama – como foi noticiado nos últimos dias acontecer
num centro hospitalar do Porto – isso é que bate todas as estupidezes ouvidas
nos últimos tempos no local de trabalho.
Ao “responsável” que
teve esta brilhante (ou pérfida ou tarada) ideia, sugiro-lhe que, dentro da
mesma linha de “desculpas” que considera como utilizadas pelas mulheres que
trabalham na sua empresa, da próxima vez que uma das suas colaboradoras lhe
comunicar que está grávida, agende com ela a ida ao ginecologista, para ouvir
os batimentos cardíacos; e quando chegar à altura do parto, faça o senhor (ou
senhora!) o toque para garantir que a colaboradora está realmente já com uns
dedos de dilatação.
Assim, se a sua mente
for apenas pervertida, mata algum fetiche que o atormenta; se for mesmo mania
da perseguição ou algum trauma mal resolvido, pelo menos sempre acompanha o
nascimento de alguém mais evoluído que a sua pessoa.
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