“Setôr de teatro
Quando era jovem
Era um grande gato
Quinhones
Setôr de teatro
Agora que é velho
Está um grande chato!”*
Aos meus 15 anos, nas vésperas do 10º ano, os meus pais
fizeram das tripas coração e colocaram-me num externato em Lisboa. Colégio
caro, com reputação, um forte investimento na educação (esperava-se!), bons professores, caríssimo, e uma filosofia de vida
que mudou a minha – ao contrário do que seria suposto.
Passo a explicar.
Aos meus 15 anos ingressei num colégio católico – e passei
a contestar a religião católica e o cristianismo. Foi com este ingresso que
conheci a professora (de história) que me ensinou a estudar; foi neste ingresso
que conheci o professor de filosofia (este) que me fez questionar a vida e o
pensamento como até então me tinha sido transmitido. Foi por este ingresso que
conheci alguns dos meus melhores amigos (e compadres), e com quem criei uma
afinidade que, 20 e tal anos depois, se mantém como nos anos 90 – imbatível, inquestionável,
inabalável, por muitos meses que passemos sem nos encontrarmos ou falarmos. Foi
com este ingresso que tive o privilégio de ter Eduardo Silveira como “professor”
de teatro – um mentor, conselheiro, “abre-olhos” para a arte e cultura.
Engraçado como 3 anos de vida podem fazer toda a
diferença. E agora, que olho para trás, reconheço que a minha vivência mudou
por completo, ao cruzar-me com quem também cruzou os corredores dos
edifícios amarelos, ali para os lados de S. Domingos de Benfica.
Conheci das pessoas mais importantes para a minha vida. Aprendi
a gostar e valorizar arte; aprendi a formar laços com vários tipos de pessoas
(tão diferentes de mim – ou seria eu diferente deles?), aprendi a rir-me de
mim, reconheci os valores e princípios que realmente me guiam – e curioso como,
com a maioria dos colegas de turma ou de teatro ou de intervalo, a mesma
afinidade se foi revelando.
E Quinhones, onde entra nisto tudo?
Foi “apenas” um professor de teatro (uma espécie de atl
da altura, com a atenuante de serem aulas gratuitas, nos levar a imensos
lugares novos para mim, apresentar-nos gente dos palcos e da cultura, como
Vítor de Sousa ou Couto Viana, ensinar-nos na prática o que o Externato
apregoava em teoria: sermos e darmos o melhor de nós mesmos, não julgarmos
gratuitamente, sermos humildes no nosso esforço e pretensão). Foi como que um Robbie Williams do "Clube dos Poetas Mortos" - mas em versão lusitana, encaixado num colégio religioso, guiado por "irmãos" com algumas ideias retrógadas e outras bem mais avançadas do que atualmente encontramos em muito boa gente.
Mas sobretudo foi um homem, vivido e já a raiar a 3ª
idade, que nos ensinou a rirmos da vida, a rirmos de nós mesmos, a sorrirmos
perante as adversidades e complicações. Que até quando destruiu o carro contra
um dos postes da escola, a única preocupação dele foi se um de nós estaria
ferido – o carro, afinal, teria seguro, o que é chapa comparado com massa
humana?
A cerca de um mês de festejarmos o seu aniversário (se
ainda fosse vivo), recordo-me cada vez mais das palavras sábias deste senhor. E
das do Prof. Júlio (“pense, menina!), e das do Irmão Carneiro, e da Prof.
Dulcídia…. Bolas, foram apenas 3 anos da minha vida ali passados, mas que
valem por 30 de experiência e valores aprendidos!
*"chato? tu chamaste chato a um professor?" perguntou o meu pai, escandalizado pela música dedicada ao Prof. Quinhones. :) como se alguma vez ele levasse a mal o nosso à-vontade e confiança nele!
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