É um dos maiores
objetivos da sociedade (dita moderna, ocidental, evoluída, chamem-lhe o que
quiserem) igualar as condições de trabalho de ambos os géneros, diminuindo a
diferença e a discriminação, e permitindo a todos os trabalhadores
(independentemente do sexo, função, ou local de trabalho) a mesma oportunidade
e respeito.
Cá pelo nosso país, a
coisa também tem sofrido a sua evolução. Quando eu comecei no mercado de
trabalho, quem p.ex tivesse mais de 35 anos estava já completamente afastado da
oportunidade de se candidatar a um emprego. Mas hoje em dia, além de ser ilegal
colocar num anúncio algo como “só são considerados candidatos até 35 anos de
idade”, as empresas já reconhecem (pelo menos em teoria) que ter 35 anos, ou 28 ou 47 pode ser
insignificante, quando o que se procura é conhecimento, experiência, talento,
maturidade e motivação.
Mas pelo nosso país também, toda a
teoria à volta desta evolução é muito defendida - e de uma forma muito bonita - mas nem sempre devidamente praticada. Somos um povo de poetas, de fados, de descobertas e
aventuras. E em pleno século XXI continuamos a inventar, descobrir e utilizar
palavras bonitas para atos que nunca iremos fazer. Sendo que no mercado de
trabalho a coisa não será diferente.
Para quem é do sexo
feminino, então as parvoíces e estupidezes que se ouvem no local de trabalho
(ou na entrevista para entrar no mesmo) são ainda mais gritantes:
A nível familiar
- tem 25 anos? E já
tem namorado? (o que é que isso interessa??)
- tem 25 anos? Ah, e
vive com o namorado…. Mas não está a pensar ter filhos, pois não? Pelo menos
para já… (não, à partida ainda demora 9 meses até a criança nascer!)
- Então e está a
pensar ter filhos nos próximos anos? (se calhar quer-se candidatar a
padrinho..)
- vai casar em Fevereiro
do próximo ano?? Eh pah… não calha nada bem.. (desculpe; se voltar a planear
um casamento peço-lhe primeiro opinião)
A nível de vencimento
- quer um aumento? Sabe
quantos desempregados aceitariam vir agora para aqui, por
menos 100 ou 200 euros? (e sabe quantos desses desempregados aceitariam estar no
seu lugar de chefinho, por menos 100 ou 200 euros, e ser muito mais líder do
que chefe?)
- quer um aumento? Não
acha essa questão quase insultuosa, nos dias que correm? (de fato, estive quase
para “elogiar a sua mãezinha”, mas depois pensei que esta minha pergunta
fizesse maior efeito)
- o máximo que lhe
posso oferecer é 550€ brutos. O que, convenhamos, dá para pagar a sua renda de
casa. É casada, não é? Então o seu marido que pague o resto das contas (ena, obrigada!,
estava mesmo a precisar de um consultor financeiro!)
A nível de férias e
ausências
- o seu filho tem de
ir ao médico? Outra vez? Mau…. (pois, o que é mau é o puto estar doente, isso que é)
- chegou mais tarde
porque teve de ir outra vez ao médico? Então mas agora vai quantas vezes ao
médico? (não faço ideia do recorde, mas posso informar-me)
- precisa de tirar um
dia de férias para tratar de uns assuntos pessoais? Então e não pode pedir a
alguém para tratar disso por si? (pois, mas se são assuntos pessoais…) - não pode fazer mais horas extraordinárias??! Então mas afinal faz parte da equipa ou não? ... Andamos aqui todos a fazer sacrifícios pela empresa, e da sua parte só ouvimos nãos!! Já vi que você não veste a camisola! (ó meu caro amigo, se queres dar opinião sobre a minha roupa pagas-me subsídio para vestes, ok??)
Estes são apenas
alguns dos muito poucos exemplos que ocorrem diariamente. Já para não falar do
assédio sexual, moral ou bullying pela formação que se tem (ou religião ou
outro motivo qualquer para causar desconforto).
Mas ter de provar que se amamenta, espremendo a mama – como foi noticiado nos últimos dias acontecer
num centro hospitalar do Porto – isso é que bate todas as estupidezes ouvidas
nos últimos tempos no local de trabalho.
Ao “responsável” que
teve esta brilhante (ou pérfida ou tarada) ideia, sugiro-lhe que, dentro da
mesma linha de “desculpas” que considera como utilizadas pelas mulheres que
trabalham na sua empresa, da próxima vez que uma das suas colaboradoras lhe
comunicar que está grávida, agende com ela a ida ao ginecologista, para ouvir
os batimentos cardíacos; e quando chegar à altura do parto, faça o senhor (ou
senhora!) o toque para garantir que a colaboradora está realmente já com uns
dedos de dilatação.
Assim, se a sua mente
for apenas pervertida, mata algum fetiche que o atormenta; se for mesmo mania
da perseguição ou algum trauma mal resolvido, pelo menos sempre acompanha o
nascimento de alguém mais evoluído que a sua pessoa.
Anda por aí muita
gente, grupo, comunidade e seita que se dedica quase em exclusivo a estudar
quem seguir – e quem criticar. Não aquela crítica mais pró infantil ou invejosa,
que vem dos tempos da primária (a “Maria” está mais gorda, não fales com ele
que ele não lava os pés, a outra foi encornada e é bem feita para não ter a
mania…). Refiro-me à crítica relativa à necessidade de carneirada e aos que,
pasme-se, resolvem não a seguir.
Naturalmente que tudo
é moda, tudo é passageiro, e que gostos não se discutem… mas o que é cada vez
mais óbvio é vermos como há tanta gente que segue forçosamente um caminho – e odeia
os que ousam não ir atrás deles. Nesse aspeto o Facebook e os blogs são pródigos
a alimentar os haters dos que não são carneiros, dos que se atrevem a
seguir outros gostos ou modas, dos que têm a audácia de querer seguir outras
carneiradas que não a sua.
- É o caso dos vegans
(uhhhh, sou tão mais in por não comer
derivados de animais!!) que odeiam tudo o que seja posts e likes sobre
hamburguerias – e o oposto também acontece;
- É o caso dos que
passam férias no Algarve (uuhhh, sou tão mais in
por apoiar a economia local em exclusivo) que repudiam quem escolha – e possa –
ir até ao Brasil ou Caraíbas – e o oposto também acontece;
- São as mães a tempo
inteiro (uuhhh, que eu é que gosto dos meus filhos por estar em casa com eles
24/7!) que odeiam as que atualizam o seu status devido a uma qualquer promoção
laboral – e o oposto também acontece;
- São os fanáticos de
cinema (uuhhhh, que eu é que sou um autêntico intelectual!) que repugnam quem
desconhece a filmografia completa de Klaus Kinski – e o oposto também acontece;
- Etc etc
E depois, há também
aquelas correntes de posts e reportagens e notícias com o objetivo de
manipularem as ideias dos que ainda não se converteram à sua opinião – ou seita.
Numa coincidência estranhíssima, e sem que nada o faça prever, mil e um sites (ou
redes sociais) desatam a partilhar (com um marketing demasiado agressivo para
passar despercebido) comentários ou temas ou eventos dedicados a:
- 7 razões para o seu
filho brincar descalço na rua, ao nascer do sol
- alimentos amarelos
que desintoxicam o organismo em menos de 18h
- como visualizar a
sua própria aura em 5 passos
- 32 livros indonésios
que deve ler até ao final do mês
- Cultura vintage –
você está in ou out?
E ai de quem não
apoiar fervorosamente estas causas ou gritar um “basta!” contra, p.ex., todos
os que preferem mais os alimentos vermelhos, ou os que nem acham assim taaaanta
piada aos tascos gourmet que vendem 4gr de carne ao preço de 1kg da melhor
vazia, só porque tem as ementas escritas numa ardósia fingida e pregada no meio
de uma parede mal estucada “para dar aquele aspeto de construção envelhecida”.
O melhor de tudo é que,
se nos atrevemos a colocar um like num post destes (porque até achámos piada, ou
porque até nos identificámos com a escrita do autor), os algoritmos do Facebook
e do Google reorganizam-se de tal forma que passamos a receber, diariamente,
inúmeras propostas de páginas e autores similares, como se a nossa vida se
resumisse àquele clicar de botão, singelo e inocente. Assim como se, por acaso, até indicamos
que vamos ao “13º Encontro dos visitantes de tascas que servem aguardente no
Baixo Alentejo”, é um ver se te avias até recebermos mil e uma mensagens dos
membros do “Água é para beber, Álcool é para morrer”, indignados com a nossa “escolha”
para o fim-de-semana e para a vida!
Sim, grupos sempre houve e sempre vai haver. Seitas
idem idem, rebanhos aspas aspas. Mas o que agora há, também, é uma promoção
cada vez mais exaustiva do “se não estás comigo, estás contra mim”, das “ideologias
diferentes e alternativas”, que no fundo querem é ser seguidas por todos. Para
que as suas ideias sejam defendidas pelo maior número de pessoas possível (uma
questão de insegurança, portanto), e para que o diferente fique igual ao resto que
já existe.
Estudos indicam que, hoje em dia, muitos homens solteiros / divorciados (na casa dos intas e dos entas) se queixam das mulheres, que consideram ser demasiado emancipadas, independentes, que se transformaram em predadoras sexuais ou desesperadas pelo próximo casamento. E que cada vez é mais difícil conhecer alguém interessante, estimulante, e que lhes permita evidenciar o seu lado macho, protetor, de modo a conseguir a corte e a conquista necessárias a um futuro relacionamento. Isto é o que eles se queixam. É realmente um fato que as mulheres solteiras / divorciadas dos dias de hoje (nos intas e nos entas) se emanciparam por completo. São independentes, bem resolvidas, reconhecem o bem que sabe terem controlo sobre a sua vida - mas nem por isso dispensam a companhia de um homem. Mas também é um fato que os homens deixaram de fomentar o seu lado lado macho (não confundir com machista!), esquecendo como fazer a corte perante a sua possível conquista - e, com isso, tentar surpreender e seduzir a mulher que lhes despertou atenção.
Objetivo do cortejar? Enaltecer a conquista. Fazer-nos sentir especiais, interessantes, interessados na nossa pessoa. E como, perguntam vocês homens? Damos como exemplo um caso prático: o primeiro encontro. Há 11 mandamentos que são fundamentais para vocês criarem uma boa impressão - e tal não implica que fiquem forçosamente interessados num segundo ou terceiro encontro. Revela apenas que são cuidadosos com a vossa pessoa (e, consequentemente, vos respeitaremos e admiraremos mais) e connosco, que afinal dispensámos tempo e disponibilidade para estar convosco e com a vossa companhia. Assim, e em jeito de resumo, podemos considerar como 11 mandamentos:
Antes do encontro
1)Antes
e aquando do convite, não usarás erros ortográficos. Do género “chegas-te a ir
ao Sushi? Janta-mos no dumingu?”
2)Não
convidarás para um café ou jantar se a tua intenção não for pagar
a.Obviamente
que nós também nos deveremos oferecer para pagar pelo menos 50% da conta
(afinal, a vida custa a todos e estamos em pleno século XXI). Mas ainda assim
se tu convidas para um encontro com custo, tens de o considerar como
investimento. Se não puderes / quiseres, convida antes para um passeio no
parque ou à beira-mar
Durante o encontro
3)Não
chegarás atrasado
4)Não
decidirás unilateralmente onde jantar, o que jantar, o que fazer depois de
jantar, onde passear, etc etc
5)Não
monopolizarás a conversa, nem farás um interrogatório sobre a nossa vida –
pessoal, profissional, sentimental, familiar, nem mentirás sobre a tua vida
(sim, nós conseguimos perceber quando a mentira está a caminho!)
6)Não
estarás sempre a olhar para o telemóvel, a mandar mensagens, a entrar no
facebook, a ligar para A ou B. Se for essa a tua intenção, mantém-te apenas no
nível de encontros virtuais
7)Não
criticarás ou julgarás gratuitamente “os pretos”, “os brasileiros”, “os
taxistas”, “os lampiões ou os lagartos”, “os licenciados ou os que ficaram pelo
nível secundário”, etc etc. É feio, ridículo, e desnecessário.
8)Não
te vitimizarás. Não há pior do que uma mulher passar um encontro a ouvir as
desgraças do homenzinho à sua frente (salvo se este for o filho, e ainda assim
depende da idade do mesmo!), de como a ex o deixou, de como a mãe não o
compreende, de como o chefe não o valoriza, etc etc.
Após o encontro
9)Não
deixarás de dar um feedback. Sincero! Se gostaste, di-lo. Se a coisa ficou
aquém das expectativas, agradece a companhia. Mas sê cavalheiro e mostra
interesse em quem também mostrou interesse em estar contigo
10)Não
dirás que vais ligar novamente – se não for essa a tua intenção. Sinceridade
sempre. Nós mulheres podemos nem sempre querer aceitar o que a intuição diz,
mas percebemos muito bem quando vocês estão a mentir ou a tentar ludibriar-nos
11) Não passarás a enviar mensagens em modo looping - nem te transformarás num "el desperado". A agradecer, a informar que adoraste, a confessar que estás ansioso pelo próximo encontro. A controlar. Porque, se assim for, só tu é que perdes o controlo.
Estes 11 pontos (ou mandamentos) são muito mais fáceis de seguir e respeitar do que parece. E tu, homem, verás que, conseguindo assimilá-los, beneficiarás de um maior respeito e uma maior probabilidade de, pela nossa parte, haver um acréscimo de respeito e reconhecimento de valor. Afinal, mesmo que o 1º encontro não passe de isso mesmo, o que preferes: seres lembrado como o gajo que até era um cavalheiro - ou como o fulano que não valia "a ponta de um corno"?
Aos meus 15 anos, nas vésperas do 10º ano, os meus pais
fizeram das tripas coração e colocaram-me num externato em Lisboa. Colégio
caro, com reputação, um forte investimento na educação (esperava-se!), bons professores, caríssimo, e uma filosofia de vida
que mudou a minha – ao contrário do que seria suposto.
Passo a explicar.
Aos meus 15 anos ingressei num colégio católico – e passei
a contestar a religião católica e o cristianismo. Foi com este ingresso que
conheci a professora (de história) que me ensinou a estudar; foi neste ingresso
que conheci o professor de filosofia (este) que me fez questionar a vida e o
pensamento como até então me tinha sido transmitido. Foi por este ingresso que
conheci alguns dos meus melhores amigos (e compadres), e com quem criei uma
afinidade que, 20 e tal anos depois, se mantém como nos anos 90 – imbatível, inquestionável,
inabalável, por muitos meses que passemos sem nos encontrarmos ou falarmos. Foi
com este ingresso que tive o privilégio de ter Eduardo Silveira como “professor”
de teatro – um mentor, conselheiro, “abre-olhos” para a arte e cultura.
Engraçado como 3 anos de vida podem fazer toda a
diferença. E agora, que olho para trás, reconheço que a minha vivência mudou
por completo, ao cruzar-me com quem também cruzou os corredores dos
edifícios amarelos, ali para os lados de S. Domingos de Benfica.
Conheci das pessoas mais importantes para a minha vida. Aprendi
a gostar e valorizar arte; aprendi a formar laços com vários tipos de pessoas
(tão diferentes de mim – ou seria eu diferente deles?), aprendi a rir-me de
mim, reconheci os valores e princípios que realmente me guiam – e curioso como,
com a maioria dos colegas de turma ou de teatro ou de intervalo, a mesma
afinidade se foi revelando.
E Quinhones, onde entra nisto tudo?
Foi “apenas” um professor de teatro (uma espécie de atl
da altura, com a atenuante de serem aulas gratuitas, nos levar a imensos
lugares novos para mim, apresentar-nos gente dos palcos e da cultura, como
Vítor de Sousa ou Couto Viana, ensinar-nos na prática o que o Externato
apregoava em teoria: sermos e darmos o melhor de nós mesmos, não julgarmos
gratuitamente, sermos humildes no nosso esforço e pretensão). Foi como que um Robbie Williams do "Clube dos Poetas Mortos" - mas em versão lusitana, encaixado num colégio religioso, guiado por "irmãos" com algumas ideias retrógadas e outras bem mais avançadas do que atualmente encontramos em muito boa gente.
Mas sobretudo foi um homem, vivido e já a raiar a 3ª
idade, que nos ensinou a rirmos da vida, a rirmos de nós mesmos, a sorrirmos
perante as adversidades e complicações. Que até quando destruiu o carro contra
um dos postes da escola, a única preocupação dele foi se um de nós estaria
ferido – o carro, afinal, teria seguro, o que é chapa comparado com massa
humana?
A cerca de um mês de festejarmos o seu aniversário (se
ainda fosse vivo), recordo-me cada vez mais das palavras sábias deste senhor. E
das do Prof. Júlio (“pense, menina!), e das do Irmão Carneiro, e da Prof.
Dulcídia…. Bolas, foram apenas 3 anos da minha vida ali passados, mas que
valem por 30 de experiência e valores aprendidos!
*"chato? tu chamaste chato a um professor?" perguntou o meu pai, escandalizado pela música dedicada ao Prof. Quinhones. :) como se alguma vez ele levasse a mal o nosso à-vontade e confiança nele!
Acabei de ler no facebook um amigo queixar-se que está
novamente apaixonado – e que o melhor mesmo é vir a próxima paixoneta,
rapidamente, para que a sensação actual passe.
Fez-me lembrar a Feira Popular.
Tal como as paixões de início de Primavera (ou de início
de outras estações do ano), a Feira Popular também abria portas normalmente
nesta altura do ano (penso eu de que), apresentava-nos as novidades e as
diversões já há muito conhecidas, nós por lá andávamos a gastar tempo e dinheiro,
e no fim acabávamos a noite com a sensação agri-doce de “foi bom…. Será que eu
quereria mais?”
Porque a Feira Popular serve, efectivamente, para termos
boas analogias com a maioria de paixonetas que, nesta altura do ano, abraçamos.
Por exemplo, há:
O carrocel
- mais uma moeda, mais uma volta. A coisa nunca muda, os
sintomas são sempre os mesmos, o tipo de homem / mulher é invariavelmente igual
ao anterior…. E por muito que cheguemos a um ponto em que nos aborrecemos
daquela voltinha, não conseguimos dizer que não (a nossa criança interior não
deixa!). E quando a volta acaba, saímos de lá com um encolher de ombros (mas a
olhar para trás, matutando se vale a pena comprar mais uma ficha)
A casa de espelhos
- entramos nela com o objectivo de encontrarmos a
alma-gémea. Teoricamente igual a nós, mas que acaba por sair distorcida. E
feia. Mas pelo menos dá para rir um pouco!
O comboio-fantasma
- é uma viagem com muitos sustos, suspeitas, fantasmas
passados, e no fim uma certa agonia por termos gasto o nosso dinheiro (tempo)
num passeio que tem a sua graça… mas que nos deixa com o coração na boca.
O poço da morte
- é ver o/a artista gozar a festa toda sozinha (é o tipo de pessoa que
gosta de dar espectáculo, nós só participamos enquanto público, encadeados com tanta luz), e sem podermos participar (opinar, sugerir, seja o que
for) mais ativamente. No fim aplaudimos, não tanto por termos gostado daquela relação
unilateral, mas sobretudo porque acabou
A roda gigante
- muito expectável. E parado. E démodé. Ao fim de 5
minutos, já queremos sair – temos é que esperar pelo fim da volta, para não nos
esborracharmos de uma altura de 20 ou 30 metros. Até lá, a coisa anda,
lentamente, muito lentamente…..
Os carrinhos de choque
- andamos os dois às turras, atrás um do outro para
depois entrarmos em choque constante. A coisa passa rápido demais, ouve-se
demasiado cedo a buzina a alertar para o fim da relação / viagem… mas pronto –
antes assim do que sairmos da pista com alguma mazela no organismo
O polvo
- são voltas alucinantes para a frente… e para trás. De
vez em quando devagar, outras vezes rapidamente… nunca sabemos muito bem com o
que contar. Só sabemos que, no fim, haveremos de ficar com um nó no estômago, e mal dispostos com a escolha feita.
A montanha-russa
- é isso mesmo. Uma montanha-russa de emoções. Em que
começamos a corrida numa expectativa cada vez mais alta, para depois entrarmos
numa crescente velocidade de sentimentos e sensações.
O algodão doce / farturas / pipocas
- muito açúcar. Demasiado açúcar mesmo. Ao princípio sabe
bem, mas ao fim de umas degustações a coisa começa a agoniar. Não há organismo
(salutar) que aguente tanto açúcar, tanto mel numa relação que se depressa se transforma num enjoo constante de tão peganhenta que é.
A Banca do tiro aos pratos
- onde por vezes conseguimos a surpresa da noite. Vamos
para lá com um cepticismo fora do normal, atiramos a moeda para cima do balcão
com um algum desdém, e no fim, sem que ninguém imagine, acertamos no prémio
maior. Que levamos para casa, bem seguro debaixo do braço (não vá alguém querer
levá-lo também), e com um misto de orgulho com surpresa – quem diria que aquele
ursão iria dormir no nosso quarto?
M., estás numa montanha-russa de emoções? É bom sinal
– aproveita as luzes e surpresas da
vida!
Há dias, na Mixórdia
de Temáticas da Rádio Comercial, o Ricardo Araújo Pereira fez um sketch sobre “estupidezes
que cometi quando era criança” – e eu, obviamente, que me senti perfeitamente
enquadrada neste tema.
Não sei se os meus
filhos se identificam também com este “tipo” de crianças (e, sinceramente, não
sei se quero saber), mas eu fui pródiga a fazer estupidezes. Muitas das quais
não resultaram em tragédias porque…. Sei lá, deveria ter uma legião de anjos da
guarda à minha mercê (ou o diabo não se sentia com paciência de santo para ter
de me aturar).
Para vos situar, a
minha infância foi passada em Benfica, em plenos anos 80, numa altura em que
era normal brincar na rua, ter aulas só no período da manhã ou da tarde (e no
restante tempo ficarmos sozinhos, à espera que os pais viessem do trabalho), as
férias de Verão serem compostas por mais de 3 meses de dolce fare niente, a televisão se resumir a 2 canais – sendo que um
deles só abria a emissão lá pelas 4 da tarde, e não haver cá nintendos ou wiis
ou qualquer tecnologia, mesmo. Por isso, nós miúdos tínhamos de nos entreter de
alguma forma, né?
Eu, que até sempre fui
mais pró recatada e pró tímida, nunca fui de grandes aventuranças por si mesmo.
Mas se tivesse companhia e pudesse dar asas à imaginação, também não ficaria
para trás. Por isso, muitas estupidezes foram feitas, juntamente com os meus
primos e vizinhos da rua e da brincadeira. Por exemplo,
1)Tocar às
campainhas dos últimos andares de todos os prédios da estrada de Benfica, e
pedir às pessoas para virem cá abaixo porque tinha havido um acidente (e depois
desatar a fugir para não ser apanhada)
2)Fazer os
clássicos telefonemas a perguntar pelo “Sr. Coelho”, pois eu seria “o caçador”
3)Descer ruas
acentuadas de bicicleta, sem travar, para ver até onde o balanço nos levava (e
até quando o osso do queixo se manteria intacto)
4)Juntar
tostões e ir à praça comprar um ou mais quilos de tremoços. E depois fazer
concurso para ver quem conseguia comer mais tremoços no menor tempo possível –
e sem vomitar
5)Querer brincar
aos funerais (!!) e, à falta de cadáver, ir à procura de ninhos com pássaros lá
dentro para provocar o homicídio – e conseguir assim o morto desejado
Depois, havia também
outras estupidezes… inocentes dentro do género, mas com uma irresponsabilidade
atroz – digna de putos sem uma década de vida ainda, mas com a falsa noção de já
terem toda a autonomia necessária para sobreviverem.
6)Querer
explorar a reação dos condutores à noite (quando, no verão, ficávamos
a brincar na rua até às tantas). Como? Colocando paus ou troncos mesmo no meio
da estrada para evitar a passagem dos carros, e um de nós (sorteado
aleatoriamente, quando o meu primo Rui por qualquer motivo não queria) se
deitava do outro lado da barreira. Objetivo? Que me lembre que o condutor parasse
o carro. Para quê? Não me recordo. Quantas vezes fizemos isto? Algumas. Só
parámos a brincadeira quando cortaram uma árvore, nós aproveitámos o tronco
para barrar a estrada, o meu primo lá se deitou do outro lado… mas como o
tronco era realmente enorme, ele não conseguia ver o carro a aproximar-se. Por
isso não tinha piada, e por isso ele levantou-se e saiu da estrada. A segundos
de um carro passar e, em vez de abrandar ou parar (como habitualmente), acelerar,
bater violentamente no tronco… e seguir viagem, fazendo um barulho muito
estranho.
7)Ir, com 6 / 7
anos e apenas na companhia de mais um ou 2 amigos da mesma idade, brincar aos "salteadores da mata perdida" pela Mata do Monsanto fora (sem dar cavaco a ninguém, e sem noção do
perigo), quer fosse de dia – ou mesmo depois do jantar, nos meses mais quentes
8)Ir para a Mata do Monsanto (com um ou dois amigos ou mesmo em bando, sem os pais saberem – para quê??) mas tentar ir pelo caminho mais curto, sem ter de ir até aos Pupilos do Exército para passar por baixo da linha de comboio. E qual o caminho mais curto? Atravessando a linha de comboio junto ao inativo apeadeiro de S. Domingos de Benfica * – uma zona em que a linha de comboio fazia um S. Ora, tendo em conta que não nos apetecia muito sermos atropelados pelo dito, como é que nós controlávamos a passagem dos comboios? Enquanto uns olhavam para um lado e para o outro para tentarem controlar a aproximação das carruagens, outro(s) encostava(m) a cabeça à linha para tentar perceber se se ouvia o som da corrente elétrica. De vez em quando, mal tínhamos tempo de nos encostarmos à parede, pois os comboios surgiam mais rapidamente do que imaginávamos; mas tirando algumas vezes que víamos cadáveres de cães e gatos (ou restos mortais de humanos, como aconteceu uma vez), muito raramente nos apercebíamos que, de fato, corríamos um risco gigantesco ao atravessar ali a linha de comboio.
Por
isso sim, também fiz muitas estupidezes quando era criança. Curiosamente, e ao
contrário da maioria dos garotos que se enquadram neste grupo, nunca enfiei
nenhuma ervilha ou brinquedo ou caroço narina dentro. Que falha gigantesca!