(A propósito deste post)
Assim que o comecei a
ler, identifiquei-me imediatamente com a “revolta” da autora – não só face ao
machismo latente na nossa sociedade, mas sobretudo porque, em pleno século XXI,
ainda se critica tanto quem vai contra esta cultura tuga de velar pelos
interesses "machistas" ou "feministas".
Os meus pais, nascidos
no interior e vindos de famílias humildes, sempre foram bastante conservadores
na atitude e educação que me deram. Nas palavras que os rapazes podiam dizer
(mas as meninas não), nas profissões que os rapazes podiam ter (mas as meninas
não), nos sítios e atividades que os rapazes podiam conhecer (mas as meninas
não). E eu nunca percebi / aceitei esta maneira de pensar.
Lembro-me que, sendo
miúda e passando as férias de verão na aldeia dos meus avós, era um
ultraje eu querer ir sozinha (ou com uma prima) ao café (“tu vê lá o que as
pessoas não vão dizer e depois é a tua avó que fica cá a ouvir todos os
comentários”).
Lembro-me que, com a carta
de condução tirada e continuando a passar as férias de verão na aldeia
dos meus avós, era um desassossego eu chegar a casa noite dentro (“vai ser cá
um falatório!”), ao contrário do meu primo que tinha carta branca para fazer o
mesmo – até o sol raiar.
Lembro-me de ser
aconselhada a seguir profissões mais “femininas”, de ser instruída para, no
futuro, ser uma boa esposa e dona de casa e mãe e profissional (a parte
profissional seria porventura dispensada se encontrasse um esposo que me
sustentasse – cruzes credo!), de ambicionar um marido que, acima de bom pai e
bom companheiro, cumprisse mensalmente o seu papel de “homem da casa” – com a
função quase exclusiva de sustentar a mesma e permitir-se ajudar com um banho
ao miúdo uma vez por outra, ou uma aspiradela à sala assim só para mostrar como
cumpria o seu papel na perfeição e bem além do expectável.
Lembro-me de sempre me
fazer confusão a expressão “dona de casa” e “ele até ajuda na lida ou na
educação dos filhos”. De ao homem ser aceite e permitida (quase elogiada, até!)
a traição, mas ai da mulher/esposa que ousasse sequer uma saia mais curta, quanto mais…
Naturalmente que tudo
isto contribuiu para a minha forma de ser e agir. E para a minha inflamação face à “separação
de papéis”, e para este machismo velado e para os movimentos pró e
anti-feministas.
Quando engravidei, fiz
questão de não decorar o quarto em tons de azul ou rosa, mesmo já sabendo o
sexo da criança (ah, mas fica tão mais bonito!!)
Quando o meu casamento
acabou, fui eu que saí de casa (uuhhh… abandono do lar e tal)
Quando o meu filho,
aos 4 anos, pediu, ofereci-lhe uma “cozinha” e utensílios, para ele dar asas à
sua imaginação e gosto pela gastronomia (então mas isso não é brinquedo de
menina??)
Quando é necessário,
monto sozinha estantes do ikea ou despacho alguma bricolage mais adequada à
minha natural falta de jeito (e consegues??)
Quando é necessário,
levo o carro à oficina ou à inspeção (e desenrascas-te??)
Quando o miúdo, hoje com 10 anos, chora, deixo-o desabafar tudo o que lhe vai na alma (não resisto a revirar os olhos, aliás, quando oiço que "um homem não chora!")
Quando o miúdo, hoje com 10 anos, chora, deixo-o desabafar tudo o que lhe vai na alma (não resisto a revirar os olhos, aliás, quando oiço que "um homem não chora!")
Quando é para arrumar
a casa, ambos os miúdos lá de casa (menino e menina) têm de participar, sem
diferenciação na tarefa a executar ou qualquer outra discriminação (sim, ambos
apanham a roupa do estendal, fazem a cama, “arrumam” o que desarrumam, despejam
o lixo….)
Quando quero, saio
sozinha à noite para ir dançar ou beber um copo (e não, não ando no ataque nem sou uma desesperada ou qualquer outra expressão mais depreciativa!)
Quando quero e gosto,
dou também o primeiro passo, pago um jantar, faço um convite (mas essas
iniciativas não cabem sempre primeiro ao homem??)
Irrita-me solenemente
esta ainda necessidade de separar as coisas “adequadas” para o homem ou para a
mulher, os preconceitos face a um homem cabeleireiro ou uma mulher motorista,
ou quem tem de se justificar perante os amigos por o seu filho andar no ballet ou a sua filha, já com 20 e poucos anos, gostar de acompanhar as refeições com
um copo de vinho.
Para mim, responsável
pela educação de 2 cidadãos, ai de quem lhes tente incutir que ser do sexo
feminino ou masculino obriga automaticamente a um condicionamento das suas
escolhas, gostos, preferências ou atitudes (quanto muito, que as mesmas sejam condicionadas pela força física ou destreza manual!!!). Ou a uma responsabilização ou
desresponsabilização perante a família, amigos e sociedade, de acordo com o seu género. Homem ou Mulher têm as mesmas capacidades, certo??
E acabem lá com essa
piada de colocar nas etiquetas “para a mãe lavar à mão”, ou “para o marido
mudar a pilha”. É uma ofensa para todos os outros os que, em exemplos como estes, lavam a
roupa ou mudam pilhas – embora não tenham ainda experimentado as maravilhas da maternidade ou de
serem casados!
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