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O fim da Disney

Pelos anos 20 do século passado, Walt Disney criou um mundo de fantasia perfeito para meninos, meninas e adultos em idade, crianças em espírito. Aproveitou e desenvolveu o mito do “e viveram felizes para sempre”, adaptou contos e fábulas conhecidos mundialmente, fez sonhar meio mundo com a esperança de uma vida melhor, cor-de-rosa, cheia de purpurinas e sonhos. E venceu. A sorte de Walt Disney foi ter ampliado esta mentalidade em pleno século XX: se fosse nos dias atuais, já teria falido há muito!

A verdade é que as histórias que deram a glória à máquina Disney, se fossem actualizadas para os dias correntes, teriam muito provavelmente um desfecho diferente – ou, pelo menos, o sucesso seria muito mais brando do que há quase 100 anos atrás. Vejamos algumas dos clássicos mais explorados (e beneficiados) com a máquina Disney – e como os mesmos seriam contados se apresentados nos dias de hoje:

Cinderela
Sinopse: jovem acompanha o casamento do pai com uma mulher ambiciosa, mãe de 2 raparigas da sua idade. Esta vê na enteada uma possível ameaça e as suas filhas sentem inveja pela beleza da garota. Solução? Pô-la como responsável pelas lides domésticas (mas sempre com receio de alguma queixa por exploração infantil). Um dia, há uma festa na cidade onde um herdeiro procura uma nova conquista. Como o pai desapareceu da história (é o chamado abandono do lar), a madrasta resolve esquecer as agruras da vida e, com as filhas, vai “laurear a pevide”. 
A Cinderela arranja uns sapatos emprestados e vai também tentar engatar o herdeiro. Consegue o seu propósito – e ainda garante que o dito vá atrás dela, com prendas de cristal (pronto, não será a melhor hipótese, mas enfim!), e com uns sapatos Louboutin. Fogem os 2 para parte incerta.


Branca de Neve
Adolescente acompanha o casamento do pai com uma mulher ambiciosa (afinal, que trauma é este de Walt Disney com as mulheres independentes??), que procura manter a flor da juventude e ser tão bonita quanto a protagonista. Face ao complexo de Electra entre Branca de Neve e o pai, a madrasta revolta-se contra a sonsice de Branca, que acaba por fugir para casa de 7 homens estranhos. A madrasta, arrependida e preocupada com a enteada bonita perdida algures, procura-a e tenta-a convencer a voltar, usando mesmo uma certa chantagem emocional ou mesmo manipulação: oferece-lhe jóias e produtos de beleza, mas será quando a tenta persuadir com alimentação saudável que Branca de Neve finge adoecer. E só “acorda” quando um estranho passa por ela e, do nada, a beija. Fogem os 2 para parte incerta.

Pinóquio
Homem de já certa idade quer ser pai – ou, pelo menos, tomar conta de algum menino. Farta-se de implorar pela realização deste desejo a tudo o que seja anjos e santos e mães de santo, até que lhe aparece em casa um menino de origem africana (“castanho – com cor de madeira”, ‘tão a ver?) – que ele adota como sendo seu filho.
Exige ao petiz educação e rigor nos estudos, mas o pirralho revela-se hiperactivo (ou especial, uma “criança-indigo”) e balda-se às aulas, não respeitando as diretizes do pai - que tenta fazer dele uma marioneta, não ouvindo as necessidades e curiosidade da criança. Nos dias atuais, a Segurança Social receberia uma denúncia anónima e o puto iria para uma instituição de acolhimento temporário – ficando lá anos a fio até conhecer uma pandilha que o levasse para bem longe.

Capuchinho Vermelho
Adolescente resolve, sozinha, ir visitar a avó. Apesar dos avisos da mãe, vai pelas ruas mais desprotegidas, mesmo tendo em conta a possibilidade em cruzar-se com algum “lobo mau”. Ao passar por este, dá-lhe conversa e diz-lhe para onde irá, a que horas lá chegará, quem lá estará… O “lobo” percebe a mensagem e vai para a casa onde, supostamente, a miúda estará. Entra lá dentro e vê alguém deitado na cama. Acreditando que aquilo será um jogo, aproxima-se… e ante as perguntas aparentemente maliciosas que a mulher acamada lhe faz, ele vai respondendo…. tentando sempre manter a chama e a tentação: “os olhos são para te ver melhor”; “as mãos são para te tocarem melhor”; “a boca grande é para te comer melhor”. Quando a miúda chega a casa e depara-se com o flirt entre a avó e o lobo, corre despeitada a chamar o vizinho caçador. Que corre atrás do “animal” por este estar prestes a comer a avó…. Apesar desta ser um apetite seu há já alguns anos!

Rapunzel
Casal “engravida” de bebé que, desejam, será um filho varão.
Quando se apercebem que a criança é do sexo feminino, perdem a vontade de manter a gravidez e, ante a pouca facilidade num aborto, entregam a criança a uma senhora de alguma idade. Esta, encantada com a filha, oferece-lhe um duplex, com medo de a perder… e todos os dias enaltece a beleza da moça e os seus longos cabelos loiros, fortes e chamativos. Um dia, percebe que a outrora menina doce está à janela a engatar tudo o que seja homem…. Que, descaradamente, sobe ao quarto da miúda. A senhora tenta acabar com aquela pouca vergonha, chega a cortar os longos cabelos da “princesa”… mas a miúda acaba por fugir com um qualquer…. Para parte incerta.

O Livro da Selva
Bebé é abandonado na selva, e ninguém mais o procura. A National Geographic dedica 12 temporadas a acompanhar a sobrevivência e desenvolvimento desta criança, que se transforma num pequeno primitivo, habituado a subir a árvores como se fosse um primata e a conviver com outros animais. Um tigre, fugido de um circo (e, por isso, habituado a convivência com humanos), tenta levar a criança de regresso à realidade humana, impelindo-o a aproximar-se de uma aldeia. Mas nenhum humano mostra interesse pelo petiz… e a National Geographic rescinde o contrato com a TV Cabo e com o dono do circo, quando lhe aparece a oportunidade de filmar a vida de uma miúda que vive num barco em alto mar e que se intitula como a “Pequena Sereia”.


É um facto: a Disney só conseguiu o sucesso que tem por ter nascido e expandido numa época em que ainda se acreditava no “Pai Natal”. Se Walt Disney fosse hoje vivo e estivesse ainda no ativo, não poderia continuar a investir em temas como o abandono familiar, ou relações entre teenagers e estranhos, ou exploração infantil. Por isso, ou se dedicava a contos e histórias sobre greves e redes sociais… ou teria de procurar um futuro noutra área do faz-de-conta… como a política, por exemplo!


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