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Se a minha mãe perguntar, digo que é mentira

Há dias, na Mixórdia de Temáticas da Rádio Comercial, o Ricardo Araújo Pereira fez um sketch sobre “estupidezes que cometi quando era criança” – e eu, obviamente, que me senti perfeitamente enquadrada neste tema.

Não sei se os meus filhos se identificam também com este “tipo” de crianças (e, sinceramente, não sei se quero saber), mas eu fui pródiga a fazer estupidezes. Muitas das quais não resultaram em tragédias porque…. Sei lá, deveria ter uma legião de anjos da guarda à minha mercê (ou o diabo não se sentia com paciência de santo para ter de me aturar).

Para vos situar, a minha infância foi passada em Benfica, em plenos anos 80, numa altura em que era normal brincar na rua, ter aulas só no período da manhã ou da tarde (e no restante tempo ficarmos sozinhos, à espera que os pais viessem do trabalho), as férias de Verão serem compostas por mais de 3 meses de dolce fare niente, a televisão se resumir a 2 canais – sendo que um deles só abria a emissão lá pelas 4 da tarde, e não haver cá nintendos ou wiis ou qualquer tecnologia, mesmo. Por isso, nós miúdos tínhamos de nos entreter de alguma forma, né?

Eu, que até sempre fui mais pró recatada e pró tímida, nunca fui de grandes aventuranças por si mesmo. Mas se tivesse companhia e pudesse dar asas à imaginação, também não ficaria para trás. Por isso, muitas estupidezes foram feitas, juntamente com os meus primos e vizinhos da rua e da brincadeira. Por exemplo,

1)      Tocar às campainhas dos últimos andares de todos os prédios da estrada de Benfica, e pedir às pessoas para virem cá abaixo porque tinha havido um acidente (e depois desatar a fugir para não ser apanhada)

2)      Fazer os clássicos telefonemas a perguntar pelo “Sr. Coelho”, pois eu seria “o caçador”

3)      Descer ruas acentuadas de bicicleta, sem travar, para ver até onde o balanço nos levava (e até quando o osso do queixo se manteria intacto)

4)      Juntar tostões e ir à praça comprar um ou mais quilos de tremoços. E depois fazer concurso para ver quem conseguia comer mais tremoços no menor tempo possível – e sem vomitar

5)      Querer brincar aos funerais (!!) e, à falta de cadáver, ir à procura de ninhos com pássaros lá dentro para provocar o homicídio – e conseguir assim o morto desejado

Depois, havia também outras estupidezes… inocentes dentro do género, mas com uma irresponsabilidade atroz – digna de putos sem uma década de vida ainda, mas com a falsa noção de já terem toda a autonomia necessária para sobreviverem.

6)      Querer explorar a reação dos condutores à noite (quando, no verão, ficávamos a brincar na rua até às tantas). Como? Colocando paus ou troncos mesmo no meio da estrada para evitar a passagem dos carros, e um de nós (sorteado aleatoriamente, quando o meu primo Rui por qualquer motivo não queria) se deitava do outro lado da barreira. Objetivo? Que me lembre que o condutor parasse o carro. Para quê? Não me recordo. Quantas vezes fizemos isto? Algumas. Só parámos a brincadeira quando cortaram uma árvore, nós aproveitámos o tronco para barrar a estrada, o meu primo lá se deitou do outro lado… mas como o tronco era realmente enorme, ele não conseguia ver o carro a aproximar-se. Por isso não tinha piada, e por isso ele levantou-se e saiu da estrada. A segundos de um carro passar e, em vez de abrandar ou parar (como habitualmente), acelerar, bater violentamente no tronco… e seguir viagem, fazendo um barulho muito estranho.

7)      Ir, com 6 / 7 anos e apenas na companhia de mais um ou 2 amigos da mesma idade, brincar aos "salteadores da mata perdida" pela Mata do Monsanto fora (sem dar cavaco a ninguém, e sem noção do perigo), quer fosse de dia – ou mesmo depois do jantar, nos meses mais quentes

8)      Ir para a Mata do Monsanto (com um ou dois amigos ou mesmo em bando, sem os pais saberem – para quê??) mas tentar ir pelo caminho mais curto, sem ter de ir até aos Pupilos do Exército para passar por baixo da linha de comboio. E qual o caminho mais curto? Atravessando a linha de comboio junto ao inativo apeadeiro de S. Domingos de Benfica * – uma zona em que a linha de comboio fazia um S. Ora, tendo em conta que não nos apetecia muito sermos atropelados pelo dito, como é que nós controlávamos a passagem dos comboios? Enquanto uns olhavam para um lado e para o outro para tentarem controlar a aproximação das carruagens, outro(s) encostava(m) a cabeça à linha para tentar perceber se se ouvia o som da corrente elétrica. De vez em quando, mal tínhamos tempo de nos encostarmos à parede, pois os comboios surgiam mais rapidamente do que imaginávamos; mas tirando algumas vezes que víamos cadáveres de cães e gatos (ou restos mortais de humanos, como aconteceu uma vez), muito raramente nos apercebíamos que, de fato, corríamos um risco gigantesco ao atravessar ali a linha de comboio.

(*Foto do antigo apeadeiro. Créditos daqui)


Por isso sim, também fiz muitas estupidezes quando era criança. Curiosamente, e ao contrário da maioria dos garotos que se enquadram neste grupo, nunca enfiei nenhuma ervilha ou brinquedo ou caroço narina dentro.  Que falha gigantesca!



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