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O meu atual futuro ex

Tenho constatado, de há uns tempos a esta parte, que as relações já não são como eram. Ou que eu já não as vejo como antigamente.
A nível de relacionamentos, fui educada (tal como a maioria da geração de 70 e 80) e quase formatada com base nas histórias de encantar e no conservadorismo próprio das gerações anteriores, nascidas e criadas no interior do país, e também elas moldadas por ideiais românticos, inexistentes, cor-de-rosas quase fúschias, tal o exagero que eles apresentam.

A minha mãe, tias, vizinhas-mães e avós sempre me incutiram (a mim e às minhas primas e amiguinhas da mesma geração) o ideal de príncipe encantado. Que eu deveria ser moça recatada qb, discreta qb, e aguardar pacientemente (não necessariamente a dormir dentro de um caixão de vidro, como a Branca de Neve, mas quase) que um único cavaleiro alto, forte e espadaúdo viesse, me visse a dormir, me acordasse com um beijo (apesar de tal ser contra o perfil de recatez sugerido), nos apaixonassemos perdidamente, casássemos e fossemos felizes para sempre.


Passei toda a minha infância a acreditar piamente que era isto que iria acontecer. Passei toda a minha adolescência a querer acreditar que, mais dia menos dia, o tal do príncipe alto, forte e espadaúdo se iria cruzar comigo, ainda que eu estivesse acordada. E passei o final da minha adolescência a ver vários dos meus primos a seguirem esta ideologia, conforme o pressuposto, casando-se e tornando-se progenitores ainda antes dos 20 - e eu a começar a achar que havia ali qualquer coisa que não batia certo. Aliás, nunca me hei-de esquecer da aflição de uma tia minha por o filho mais velho (na altura com 23 / 24 anos) ainda estar solteiro - "que vergonha, olha o falatório que não é pelas ruas da aldeia!!!"

Pelos meus 25 anos também eu escrevi uma história (na altura, de encantar). Depois de alguns namorados (que para os meus pais e avós nunca passaram de amigos, pois o casamento nunca se concretizou), finalmente (!) resolvi tornar-me senhora casada. E nem um ano de aliança no dedo tinha já sentia a pressão para ser mãe. Ou seja, se tudo tivesse corrido by the book, quando chegasse aos 30 já deveria ser mãe de pelo menos uns 2 ou 3, de acordo com as ditas histórias de fadas e princesas.

Mais de 10 anos depois, a minha história "de encantar" acabou - com 2 filhos sim, mas com a sensação de dever cumprido por o rei ter sido deposto e eu, ainda assim, me sentir rainha do meu castelo. E o mais engraçado foi que, quando informei a minha família de tal (e imaginava o dramalhão que iria ser....), os meus pais aceitaram perfeitamente a minha decisão, não me tentando demover com argumentos cores-de-rosa ou bruxas más que deveriam ser combatidas.

Hoje em dia, quando leio as ditas histórias de encantar, já consigo sentir uma maior empatia pela bruxa má, propriamente, do que pela tonta da princesa que espera ansiosamente pelo rapazito que lhe traga o sapato certo, ou que lhe salve da asfixia provocada pela família (leia-se madrasta).
Hoje em dia, já não acredito em príncipes encantados, altos, fortes e espadaúdos. Fico mesmo com urticária mediante a ideia em me contentar com o primeiro que me tente levar para o seu reino - ele que fique com o seu cavalo alado, que eu fico com o meu palácio.
Hoje em dia, sei que o príncipe tem prazo de validade até se transformar novamente em sapo. E não me importo nada se esse prazo for apenas um dia, ou mês, ou um ano, ou uma vida. O que for, será.
Seja na pele de mais ou menos princesa ou encarnando até uma quase bruxa má, é assim que a minha história terá mais encanto. Ou pelo menos mais capítulos. É assim que eu a poderei terminar com um "e foi feliz para todo o sempre..."!

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